HOMENAGEM A JORGE DE SÁ

Diz-nos a vida que não há ninguém insubstituível. Mas também todos sabemos que há quem faça mais falta que outros. Não vos vou traçar o perfil académico do Professor, porque isso podem consultar facilmente na internet. Nem tão pouco do dirigente associativo que foi ou das funções fundamentais que desempenhou no CIRIEC. Trago-vos apenas o retrato de um homem que aprendemos a admirar e respeitar, pela frontalidade que punha no debate, pelo empenho co que se dedicava às causas em que acreditava. O Professor Jorge de Sá era um homem da Economia Social que vivia intensamente todas as situações e decisões que tinham a ver com tudo o que dizia respeito a este setor, tivesse isso a ver com o mutualismo, a que estava ligado, com as cooperativas, com as misericórdias ou com qualquer outro tipo de organizações da ES. Estava longe de ser um homem de consensos. Se tivesse que o definir, diria mesmo que era um homem de ruturas, mas ruturas saudáveis, daquelas que nos fazem questionar o que já demos como certo ou adquirido. Quando as coisas pareciam estar arrumadas, lá aparecia uma questão colocada pelo Professor, por vezes assim como não quer a coisa, que nos fazia voltar à estaca zero ou quase. Mas eram pertinentes e oportunas as questões que colocava, fruto do profundo conhecimento que tinha desta realidade complexa que é a Economia Social. Tive oportunidade de passar muitas horas com ele e confesso-vos que aprendi muito com ele. Era um homem detentor de um tipo de ironia fina, mas autenticamente mordaz. E tinha sempre projetos e ideias para desenvolver, entusiasmos para partilhar, não importava o local ou a hora. Confesso-vos que a sua morte me apanhou completamente desprevenido. Já tínhamos combinado uma série de coisas para fazer e, de repente, ele parte para aquela que convencionámos ser a última das viagens. Eu, seguramente, perdi um grande amigo, uma pessoa de quem ainda tinha muito a aprender. Mas todos nós, que navegamos nestas águas por vezes turbulentas da Economia Social, perdemos um dos nomes mais marcantes do nosso tempo, um académico dedicado, um lutador incansável pelas causas que abraçamos. Por isso, e em jeito de homenagem singela, resolvi partilhar convosco o epitáfio que lhe dedicaria. Fui buscar a ideia e parte das palavras a um epitáfio, da autoria de Joaquim Namorado, e que está na campa de um soldado que Adriano Correia de Oliveira cantou no tema Canção com Lágrimas. De algum modo, o Jorge de Sá (era assim que ele queria que o tratasse, sem o peso incómodo dos títulos) era um soldado nesta grande luta que temos que travar por uma economia social cada vez mais forte e determinante para o desenvolvimento económico e qualidade de vida das pessoas. Com a devida vénia ao Joaquim namorado, escreveria assim

 

Falavas desta nossa luta

Como de coisa tua

E a espingarda das palavras encontrou em ti

Seu lugar próprio

Soldado sem ódio

Não estiveste presente na tua morte

E aqueles que hoje continuam

A tua luta

Levam o teu nome escrito

E outros nomes

Nas pétalas de espanto que os ocupam

 

Obrigado Jorge. Descansa em paz

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